A morte de novo, os arrependimentos e a gratidão.
Já compartilhei minha percepção sobre a morte, mas gostaria de adicionar alguns pensamentos e experiências recentes.
Talvez as mortes que aconteceram antes não fossem tão significativas ou a minha entrega naqueles relacionamentos não tenha sido tão intensa.
Talvez eu não estivesse tão madura e não percebesse as coisas da mesma forma.
Enfim, desta vez o processo foi mais forte e impactante, por um motivo muito claro: arrependimento!
Relacionamentos de contato intenso geram situações que nem sempre são as ideais. Dia desses em uma reunião de equipe ouvi uma pessoa dizer: "quanto mais você conhece alguém, menos você gosta". Mas dependendo do nível de amor (no sentido de afeição por alguém, não necessariamente conjugal), apesar de conhecer, você continua gostando e tentando equilibrar os pontos delicados.
Acontece que eu sempre fui muito prática e gosto de acabar com os assuntos. Não consigo deixar coisas pendentes. Mas o ato de encerrar, finalizar, muitas vezes acaba tendo a conotação de destruir o que não se quer mais. Intensa é uma palavra que normalmente define minha forma de agir.
Então desta vez, o que aconteceu foi que, no meio do processo, resolvi cortar o cordão umbilical com essa pessoa. Da mesma forma que fiz com minha mãe biológica, resolvi que era o momento de encerrar uma fase com essa pessoa que era como uma junção de mãe, irmã, amiga e companheira. A ideia era mantê-la apenas na posição de amiga/irmã.
No momento em que fiz isso não houve qualquer sentimento negativo da minha parte, sentia que era o ritmo das coisas. E ela também não expressou nenhuma atitude de tristeza ou menção de não concordar com o que eu estava fazendo. Foi natural e ela foi amorosa como sempre.
A sua morte ocorreu alguns anos depois disso. Convivi com ela menos do que antes, pois mudei de cidade, para longe dela. Mas isso não impedia que pelo menos duas vezes por ano tivéssemos contato presencial e trocássemos muitos emails.
A minha primeira reação após ela falecer foi novamente de que este era o ritmo natural e de reconhecer a oportunidade incrível que eu tive de conviver com uma pessoa que definitivamente era muito especial.
Mas 8 meses depois da sua partida, uma ficha caiu: a minha atitude naquele momento da separação não foi madura. Como uma adolescente, que quer se livrar dos pais e depois reconhece o seu valor, tarde demais, eu sentia que fui ingrata e não percebi o que aconteceu.
Certamente que ela não teve este tipo de julgamento. A natureza dela sempre foi de fé intensa no potencial de todos que a cercavam, e mesmo quando as pessoas mostravam o seu pior lado, ela sempre enxergava além e incentivava a seguir em direção ao futuro possível que ela conseguia ver. Nós talvez não.
O que quero dizer aqui é que esse processo foi meu, e que provavelmente ela não teve nenhum dos pensamentos que a minha consciência criou para me mostrar a situação.
Senti que minha atitude naquele momento de separação foi infantil. Isso gerou uma tristeza que veio lá do fundo. Ninguém quer ser mau, muito menos com alguém que fez tanto por você.
De repente parece que todo o investimento que aquela pessoa fez em mim, toda a dedicação, anos a fio, ensinando, cuidando, dando condições de crescimento pessoal e espiritual, toda a fé e confiança que ela tinha em mim ficaram latentes na minha mente. Eu via a imensidão que recebi e só conseguia pensar que resolvi encerrar um ato da peça e o fiz sem nenhum tato e sem nenhuma gratidão.
Esse sentimento de que a minha gratidão deveria ser tão imensa quanto tudo o que recebi, e a constatação de que aquilo que eu fiz não demonstrava nenhuma gratidão, formaram um rombo no meu coração.
Passei 3 dias chorando. Incontrolável, o ciclo de pensamentos girava assim - como eu fui ingrata, como o amor que recebi foi imenso, como eu fui ingrata, como o amor que recebi foi imenso, eu deveria ter percebido isso e agradecido ou retribuído antes que ela se fosse.....
No terceiro dia, uma pessoa próxima me disse que sentiu ela cuidando de nós durante aqueles 3 dias.
Levei um choque. Como assim? Depois de tudo que eu fiz e fui ela ainda cuida de mim?
Confesso aqui que nunca vi, ouvi ou senti nada. Não sou sensitiva, acho até que sou prática demais e que realmente deveria dar mais atenção a esses aspectos sutis. Mas enfim, não desacredito nessa possibilidade de a alma/ ser/ espírito estar presente, mas sem um corpo.
E foi então que caiu a segunda ficha. O arrependimento é um processo pessoal. Não tem nada a ver com o outro. É você encarando as suas ações e as conseqüências delas. Talvez você só vá encarar isso quando o seu processo interno e o seu entendimento estiverem preparados para isso. E esse é o momento certo, não é tarde demais. É quando tinha que ser...
E a terceira ficha: cada um tem o seu papel.
O arrependimento pelo que deixei de fazer por ela, pelos momentos em que não estive presente, pelas coisas que não disse, tudo isso não fazia parte do meu papel. Haviam outros personagens no enredo dela, outras pessoas que tinham o papel que eu me arrependo por não ter desempenhado. Essa tarefa foi cumprida por outra pessoa. O meu papel era fazer o que fiz e ponto final.
Assim como o papel dela era fazer tudo o que ela fez por mim, dar amor e mais amor, acreditar, entusiasmar, ter fé e confiança inabaláveis nesse ser que as vezes ainda não acredito que posso ser. E esse papel também era perfeito, preciso e benéfico.
E foi assim que a gratidão pode brotar. Não aquela gratidão que você tem que expressar pessoalmente, o muito obrigado, o presente que busca materializar o sentimento. Mas a gratidão enquanto aquele amor que se expande e que vai além dos fatos que aconteceram. Um sentimento de amor pela perfeição da nossa caminhada, pelo prazer dos momentos preciosos que compartilhamos com pessoas especiais que tinham um roteiro mais curto que o nosso (talvez por isso sejam tão intensos e provoquem tanto impacto naqueles que ficam) e uma serenidade de que esse realmente era o ritmo das coisas.
E o arrependimento passou a ser um facilitador de compreensão e um propulsor de ações mais generosas e gratas com os que ficaram. Talvez essa seja a última grande lição que essa pessoa especial ainda tinha para me ensinar: o desconforto, o arrependimento e principalmente a gratidão são sinais de maturidade!
Depois de anos buscando a maturidade, acho que amadureci!!!
Gratidão minha irmã, por tudo, onde quer que você esteja!
Talvez as mortes que aconteceram antes não fossem tão significativas ou a minha entrega naqueles relacionamentos não tenha sido tão intensa.
Talvez eu não estivesse tão madura e não percebesse as coisas da mesma forma.
Enfim, desta vez o processo foi mais forte e impactante, por um motivo muito claro: arrependimento!
Relacionamentos de contato intenso geram situações que nem sempre são as ideais. Dia desses em uma reunião de equipe ouvi uma pessoa dizer: "quanto mais você conhece alguém, menos você gosta". Mas dependendo do nível de amor (no sentido de afeição por alguém, não necessariamente conjugal), apesar de conhecer, você continua gostando e tentando equilibrar os pontos delicados.
Acontece que eu sempre fui muito prática e gosto de acabar com os assuntos. Não consigo deixar coisas pendentes. Mas o ato de encerrar, finalizar, muitas vezes acaba tendo a conotação de destruir o que não se quer mais. Intensa é uma palavra que normalmente define minha forma de agir.
Então desta vez, o que aconteceu foi que, no meio do processo, resolvi cortar o cordão umbilical com essa pessoa. Da mesma forma que fiz com minha mãe biológica, resolvi que era o momento de encerrar uma fase com essa pessoa que era como uma junção de mãe, irmã, amiga e companheira. A ideia era mantê-la apenas na posição de amiga/irmã.
No momento em que fiz isso não houve qualquer sentimento negativo da minha parte, sentia que era o ritmo das coisas. E ela também não expressou nenhuma atitude de tristeza ou menção de não concordar com o que eu estava fazendo. Foi natural e ela foi amorosa como sempre.
A sua morte ocorreu alguns anos depois disso. Convivi com ela menos do que antes, pois mudei de cidade, para longe dela. Mas isso não impedia que pelo menos duas vezes por ano tivéssemos contato presencial e trocássemos muitos emails.
A minha primeira reação após ela falecer foi novamente de que este era o ritmo natural e de reconhecer a oportunidade incrível que eu tive de conviver com uma pessoa que definitivamente era muito especial.
Mas 8 meses depois da sua partida, uma ficha caiu: a minha atitude naquele momento da separação não foi madura. Como uma adolescente, que quer se livrar dos pais e depois reconhece o seu valor, tarde demais, eu sentia que fui ingrata e não percebi o que aconteceu.
Certamente que ela não teve este tipo de julgamento. A natureza dela sempre foi de fé intensa no potencial de todos que a cercavam, e mesmo quando as pessoas mostravam o seu pior lado, ela sempre enxergava além e incentivava a seguir em direção ao futuro possível que ela conseguia ver. Nós talvez não.
O que quero dizer aqui é que esse processo foi meu, e que provavelmente ela não teve nenhum dos pensamentos que a minha consciência criou para me mostrar a situação.
Senti que minha atitude naquele momento de separação foi infantil. Isso gerou uma tristeza que veio lá do fundo. Ninguém quer ser mau, muito menos com alguém que fez tanto por você.
De repente parece que todo o investimento que aquela pessoa fez em mim, toda a dedicação, anos a fio, ensinando, cuidando, dando condições de crescimento pessoal e espiritual, toda a fé e confiança que ela tinha em mim ficaram latentes na minha mente. Eu via a imensidão que recebi e só conseguia pensar que resolvi encerrar um ato da peça e o fiz sem nenhum tato e sem nenhuma gratidão.
Esse sentimento de que a minha gratidão deveria ser tão imensa quanto tudo o que recebi, e a constatação de que aquilo que eu fiz não demonstrava nenhuma gratidão, formaram um rombo no meu coração.
Passei 3 dias chorando. Incontrolável, o ciclo de pensamentos girava assim - como eu fui ingrata, como o amor que recebi foi imenso, como eu fui ingrata, como o amor que recebi foi imenso, eu deveria ter percebido isso e agradecido ou retribuído antes que ela se fosse.....
No terceiro dia, uma pessoa próxima me disse que sentiu ela cuidando de nós durante aqueles 3 dias.
Levei um choque. Como assim? Depois de tudo que eu fiz e fui ela ainda cuida de mim?
Confesso aqui que nunca vi, ouvi ou senti nada. Não sou sensitiva, acho até que sou prática demais e que realmente deveria dar mais atenção a esses aspectos sutis. Mas enfim, não desacredito nessa possibilidade de a alma/ ser/ espírito estar presente, mas sem um corpo.
E foi então que caiu a segunda ficha. O arrependimento é um processo pessoal. Não tem nada a ver com o outro. É você encarando as suas ações e as conseqüências delas. Talvez você só vá encarar isso quando o seu processo interno e o seu entendimento estiverem preparados para isso. E esse é o momento certo, não é tarde demais. É quando tinha que ser...
E a terceira ficha: cada um tem o seu papel.
O arrependimento pelo que deixei de fazer por ela, pelos momentos em que não estive presente, pelas coisas que não disse, tudo isso não fazia parte do meu papel. Haviam outros personagens no enredo dela, outras pessoas que tinham o papel que eu me arrependo por não ter desempenhado. Essa tarefa foi cumprida por outra pessoa. O meu papel era fazer o que fiz e ponto final.
Assim como o papel dela era fazer tudo o que ela fez por mim, dar amor e mais amor, acreditar, entusiasmar, ter fé e confiança inabaláveis nesse ser que as vezes ainda não acredito que posso ser. E esse papel também era perfeito, preciso e benéfico.
E foi assim que a gratidão pode brotar. Não aquela gratidão que você tem que expressar pessoalmente, o muito obrigado, o presente que busca materializar o sentimento. Mas a gratidão enquanto aquele amor que se expande e que vai além dos fatos que aconteceram. Um sentimento de amor pela perfeição da nossa caminhada, pelo prazer dos momentos preciosos que compartilhamos com pessoas especiais que tinham um roteiro mais curto que o nosso (talvez por isso sejam tão intensos e provoquem tanto impacto naqueles que ficam) e uma serenidade de que esse realmente era o ritmo das coisas.
E o arrependimento passou a ser um facilitador de compreensão e um propulsor de ações mais generosas e gratas com os que ficaram. Talvez essa seja a última grande lição que essa pessoa especial ainda tinha para me ensinar: o desconforto, o arrependimento e principalmente a gratidão são sinais de maturidade!
Depois de anos buscando a maturidade, acho que amadureci!!!
Gratidão minha irmã, por tudo, onde quer que você esteja!